sexta-feira, 15 de maio de 2015

Nostalgia: Armação Ilimitada, clássico juvenil da Globo, completa 30 anos

Capa do LP da série com o elenco principal (Foto: Divulgação/Som Livre)

Muito antes de Malhação, existia uma série voltada para o público juvenil/adulto que curtia surf, cinema, música, e altas aventuras. Era o Armação Ilimitada. A série completa 30 anos de sua estreia na Rede Globo. O programa foi ao ar pela primeira vez em 17 de maio de 1985 e ia ao ar, inicialmente, uma vez por mês no bloco Sexta Super, às 21h20. A partir da segunda temporada (1986) a série era apresentada quinzenalmente.

Armação Ilimitada contava as aventuras da dupla Juba (Kadu Moliterno) e Lula (André De Biase), que moravam na Zona Sul do Rio de Janeiro e possuíam uma agência de prestação de serviços que dá o nome à série. Eles eram polivalentes e estavam dispostos pra topar qualquer parada (missão). Os dois eram apaixonados pela jornalista Zelda Scott (Andréa Beltrão), que já adotou os mais variados estilos e modismos até decidir ser uma mulher "moderna" para os contemporâneos padrões. Ela trabalhava num jornal chamado Correio do Crepúsculo, onde seu chefe (Francisco Milani, in memorian) a enviava para as mais loucas pautas para as manchetes.

A série tinha alguns outros personagens de suporte como o Bacana (Jonas Torres), que perdeu os seus pais no começo da trama e foi adotado por Juba e Lula. Possuía um estranhíssimo bordão onde dizia "Ai, meu saquinho!". Também tinha Ronalda Cristina (Catarina Abdala), amiga de Zelda que falava umas certas verdades como conselho. Não podemos esquecer que a série era narrada pela Black Boy (Nara Gil), que é algo semelhante à DJ negra do filme Os Selvagens da Noite (1979).


O chefe maluco do jornal Correio do Crepúsculo (Foto: Divulgação/Globo)

Armação Ilimitada foi um grande sucesso entre a juventude brasileira nos anos 80 e a dupla Juba & Lula eram genuinamente referências de heróis nacionais. Foi uma série ousada para um tempo onde o fim da ditadura militar era bastante recente. A começar pelo triângulo amoroso inspirado no filme francês Uma Mulher para Dois, do diretor François Truffaut. Os protagonistas retratavam de forma bem humorada a juventude que curtia altas ondas/aventuras. Os clichês, então, eram os ingredientes certos para os episódios. Claro, inspirados em várias produções cinematográficas e televisivas do momento e clássicos antigos também. Era fácil encontrar diversas referências e sátiras a agentes secretos, super-heróis, vampiros, extraterrestres, mulheres perigosas e tudo o que você puder imaginar. Armação Ilimitada era um prato cheio de um grande misto da cultura pop dos anos 80. Isso sem mencionar que os próprios personagens brincavam ao dizer que iriam assistir ao próprio programa. Até o Cristo Redentor e o então Presidente José Sarney, se duvidar. Era uma série diferente de tudo o que antecedeu e ainda é diferente, por mais que os conceitos não sejam mais atuais. Armação Ilimitada abusava de cenas aventureiras e perigosas.

O programa nasceu de uma idealização de Kadu Moliterno e André de Biase que trabalharam juntos na novela global das oito Partido Alto (de maio a novembro de 1984) e tinham o surf como hobby em comum. A intenção era criar uma série de TV onde tivesse esportes, romances e aventura como elementos e que fossem voltadas para o público jovem. O projeto foi levado para Daniel Filho, em 1985, que apostou de cara na empreitada.

Para que a série fosse além do universo surf, foram chamados o autor Antonio Calmon (que trabalhou nos filmes Menino do Rio [1981] e Garota Dourada [1984] - onde Biase esteve no elenco), a atriz e escritora Patricya Travassos, o dramaturgo Euclydes Marinho e o produtor musical Nelson Motta. Vale ressaltar que os dois últimos residiam na Itália e não tinham pretensão em voltar ao Brasil em definitivo, mas receberam o recrutamento pessoalmente pela parte de Daniel Filho. Estes contribuíram com os quatro primeiros episódios e foram substituídos por Daniel Más (in memorian). A influencia cinematográfica ficou a cargo do diretor Guel Arraes que relutou no início por achar que o nicho da série fosse bastante carioca. Mas foi convencido por Daniel para criar uma linguagem específica para a trama.


Black Boy, a DJ que narrava as avanturas
da dupla de heróis (Foto: Reprodução/Globo)

Diferente de demais produções da Globo, Armação Ilimitada era filmado apenas com uma só câmera, ao invés de quatro. Coisa inédita até então para os bastidores da emissora dos MarinhoA iluminação era do diretor de fotografia Nonato Estrela, que era atuante no cinema e estava despontando para a TV.

Os custos não eram altos, pois a produção era modestamente "econômica" para os recursos. A demora média de 12 dias para as gravações de cada episódio virou até piada entre os roteiristas do programa. Curiosamente, o título da série surgiu de um de palavras que usavam o "ar", o "mar" e a "ação", que associavam à gíria "armação" que surgia na época. O nome da jornalista Zelda Scott é uma referência direta à romancista Zelda Sayre Fitzgerald, esposa do escritor americano F. Scott Fitzgerald (autor de O Grande Gatsby). Armação Ilimitada teve várias participações de atores globais conhecidos e até de dubladores cariocas fazendo pontas. Dentre eles vimos Caio Junqueira, de Tropa de Elite, ainda criança e em início de carreira. A série foi uma peça importante também para o rock brasileiro, onde a música nacional descobria novos talentos pelo gênero nacional como Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Blitz, etc. O sucesso foi tamanho que Armação foi vendido para outros países como França, Argentina, Mônaco, etc.

Após o final da série, em 8 de dezembro de 1988, Juba e Lula protagonizaram um outro programa batizado com o nome da dupla, em junho do ano seguinte. Era exibido diariamente nos fins de tarde e era um programa de auditório. A fórmula não deu certo, apesar da temática ter sido um apelo à ecologia.

Armação Ilimitada ganhou várias reprises na extinta Sessão Aventura (ainda em 1988), além de passar pelas comemoração do Festival 25 Anos da Globo em 1990; e sua última reprise no canal foi em 1997 durante às tardes de domingo. Na TV fechada, Armação foi ao ar em 2005, pelo Multishow; e no Viva, de 2011 a 2012. Bem, já tá mais do que na hora de termos mais uma reprise pra gente matar saudade, né?

Um comentário:

  1. Grande seriado, gostava muito, pena que as emissoras nacionais não criam nada mais nada neste formato.

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.