sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Ultraman vs. Hanuman: o encontro que gerou um grande problema para a Tsuburaya

Os seis Irmãos Ultra e a divindade Hanuman

Durante a história da Tsuburaya, uma das fases mais difíceis foi a parceria com o estúdio tailandês Chaiyo. Fruto de uma briga judicial que se arrastou por mais de dez anos e que teve seu fim em novembro passado. O símbolo desta parceria é de longe o constrangedor Ultra Roku Kyodai vs. Kaiju Gundan (Os Seis Irmãos Ultra contra o Exército de Monstros) que reuniu os heróis da Nebulosa M-78 e a divindade Hanuman.

Lançado em 26 de novembro de 1974, o filme contou a história de Koh um garoto que foi brutalmente assassinado por ladrões que roubaram a cabeça da estátua de Buda. Comovida com a bravura do garoto, a Mãe de Ultra convoca os seis irmãos Zoffy, Ultraman, Ultraseven, Ultraman Jack, Ultraman Ace e Ultraman Taro para transportar o corpo de Koh para M-78 e ressuscitá-lo como hospedeiro do deus-macaco Hanuman. Uma figura lendária que existe apenas na mitologia hindu.

Enquanto isso, a base Donuma Seven está prestes a testar um lançamento de foguetes. Donuma Seven é comandado pelo Dr. Wisut e ele conta com sua assistente Marissa e a dupla de pilotos Sipuak e Sisuliya. Ambos são bem bobocas e tentam fazer graça com atitudes bastante infantiloides, além de vestir uniformes da ZAT, o esquadrão anti-monstros de Ultraman Taro. Já a moça é um colírio para os olhos, porém sem muita utilidade para a trama.

A experiência com os foguetes foi catastrófica e isso despertou os kaijus Gomora (de Ultraman), Dustpan (de Mirrorman), Astromons, Tyrant e Dorobon (os três últimos são de Ultraman Taro). Após salvar Annan, o amigo de Koh, do perigo, Hanuman ressurge para impedir o ataque dos cinco monstros gigantes. Ao ser encurralado, os seis Irmãos Ultra aparecem para ajudar o novo companheiro e defender a Terra.

No longa de quase 2h de duração podemos ver cenas de séries e filmes antigos, trilhas sonoras (especialmente de Ultra Seven) e outros elementos da mitologia da Família Ultra reaproveitados. Um filme arrastado e que não causa a menor empolgação. Tem boas sequencias de ação, porém está longe da essência da franquia Ultra. Quase tudo é fraquíssimo e há situações improváveis como esmagar um bandido, mostrar cena de assassinato de criança, entre outras bizarrices. Ultra Roku Kyodai vs. Kaiju Gundan soou como uma desculpa pretensiosa para divulgar os Ultras como se fosse uma superprodução. Está anos luz de tal nível.

Ainda não é a produção mais constrangedora de todos os tempos, como os filmes orientais live action de Dragon Ball, por exemplo. Mas vale assistir pela curiosidade e como material de pesquisa sobre tokusatsu. Você não irá sentir saudades depois de conferir por si próprio. Muito menos a Tsuburaya que teve uma experiência constrangedora que ultrapassa a qualidade do filme. Tudo parecia acabar ali mesmo, mas este seria apenas o começo de uma grande dor de cabeça para o estúdio japonês.

Curiosamente no mesmo ano de lançamento desta bizarrice, a Chaiyo produziu Hanuman and the Five Riders, em parceira com a Toei Company. A divindade também se encontrou com os Riders Ichigô, Nigô, V3, Riderman e X. Mas isso é assunto para um outro post.

Ultra Roku Kyodai vs. Kaiju Gundan estreou no Japão apenas em 17 de março de 1979, semanas antes da estreia do animê TheUltraman. Série que marcou a volta temporária dos Ultras após o final de Ultraman Leo.

Fim da briga judicial em 2017

Capa do Laser Disc japonês do filme 
com destaquepara Ultraman Taro
Após a morte de Noburu Tsuburaya (segundo filho de Eiji Tsuburaya) em junho de 1995, o presidente da Chaiyo, Sompote Saengduenchai, afirmou no ano seguinte que havia um acordo firmado entre as empresas tailandesa e japonesa assinado cerca de 20 anos antes. Na ocasião foi apresentada uma carta com uma assinatura forjada, como se fosse do próprio Noburu Tsuburaya e com data de 4 de março de 1976. O suposto documento dizia que os direitos internacionais (com exceção do Japão) dos personagens da franquia Ultra até 1973 (ano de estreia de Ultraman Taro) foram transferidos para a Chaiyo.

A Tsuburaya afirmou que a tal carta era uma fraude e haviam evidências disso. O nome do estúdio japonês estava com grafia errada e Ultraseven foi referido como "Ultraman Seven". De acordo com os advogados da Tsuburaya, o sr. Noburu jamais erraria os nomes dos personagens. Apesar disso, a Chaiyo criou um seus próprios personagens baseados nos Ultras e inserido-os em shows, imagens promocionais e o famigerado filme tratado acima.

A disputa judicial pela marca Ultraman começou em meados de 2002 e atingiu o mercado ocidental, uma vez que o documento apresentado pela Chaiyo afirmava que os direitos de distribuição para outros países pertenciam a eles. O mais absurdo é que a Chaiyo afirmava que ela tinha parte da criação da franquia nos anos 60. O que todos sabemos que é uma falácia sem cabimento. Tal alegação teve como base uma visita que Eiji Tsuburaya fez na Tailândia e lá teria conhecido uma variedade de estátuas raras de Buda através de Saengduenchai e algumas dessas imagens serviria de inspiração para a criação do primeiro Ultraman. O fato é que a Chaiyo teve permissão oficial para negociação de merchandising de Ultraman na Tailândia e em mais cinco países da Ásia. Porém o presidente da Chaiyo diz ter sido prejudicado pela Tsuburaya e chegou a exigir uma carta de retratação numa determinada ocasião.

Em 20 de novembro deste ano, oito membros da corte jurídica de Los Angeles declararam por unanimidade que o tal contrato apresentado pela Tsuburaya não tem qualquer autenticação. Assim foram concedidos os direitos definitivos das primeiras séries Ultra para a Tsuburaya. Em outras palavras, séries como Ultra Q, Ultraman, Ultra Seven, O Regresso de Ultraman, Ultraman Ace e Ultraman Taro podem futuramente ser comercializadas fora do Japão para variadas mídias. Após esta longa e árdua batalha, a Tsuburaya conquista a vitória num ano bastante significativo/comemorativo que foi 2017.

5 comentários:

  1. Não sei porque a Tailandia quer Ultraman.Se os monstros atacarem é só
    mandarem Tony Jaa.

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    1. Oi, Anderson. Quem sabe o Tony Jaa sea um hospedeiro de um Ultraman, né? Cenas dos próximos capítulos. (hahaha!) Abraços!

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  2. Que legal ! Minha leitura diária está de volta. Estou neste momento no metrô, interessante este post, trata se de um período em que havia muitas produções japonesas por aí , enquanto aqui , ultra Jack e seven, repetiam se em vários canais , Mesmo sendo uma produção "menor " da Tsuburaya ,a recomendação é certeira vale a pena dar uma olhada até pelo contexto histórico . O ano começou promissor com esta belíssima matéria, parabéns!

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    1. Oi, Job. Feliz Ano Novo e obrigado pelas felicitações. Esse filme é recomendável mesmo para pesquisa e vale também pela curiosidade. É uma exceção em meio a tantos filmes legais dos Ultras. O filme é bem chato, mas o que salvam mesmo são as sequencias de ação e um colírio chamado Marissa. (hehe!) Esse foi o último post de 2017 do blog. O primeiro de 2018 sai ainda hoje. Abraços!

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  3. Obrigado. Certamente irei ler na volta do trabalho.

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