sexta-feira, 23 de março de 2018

O Monstro da Bomba H (1958)

O primeiro filme tokusatsu fora da linhagem kaiju

Pela primeira vez a Toho faria uma produção tokusatsu fora do estilo kaiju, porém contando uma boa história de ficção científica. De acordo com registros oficiais, Hideo Unagami, ex-ator do estúdio Shochiku que foi contratado pela Toho (participou em papeis pequenos em Rodan!... O Monstro do Espaço e Os Bárbaros Invadem a Terra), apresentou seu projeto para um filme chamado Bijo To Ekatai-Ningen (A Bela e a Pessoa Líquida). O produtor Tomoyuki Tanaka gostou bastante e deu sinal verde para o projeto ir adiante. Com direção de Ishiro Honda e efeitos especiais de Eiji Tsuburaya, a Toho iniciava uma série de filmes sobre mutantes para o cinema como The Human Vapor (de 1960) e Matango, a Ilha da Morte (de 1963). Conhecido nos EUA como The H-Man (e às vezes confundido com o trash A Bolha Assassina, que foi lançado meses depois), o filme ficou conhecido no Brasil como O Monstro da Bomba H. Como o título japonês sugere, seria uma versão assombrosa de A Bela e a Fera no cinema japonês. Estreou por lá em 24 de junho de 1958.

Tudo começa com o desaparecimento de um contrabandista chamado Misaki que fora atropelado e apenas suas roupas estavam no chão. A misteriosa morte chama atenção da polícia e a investigação leva a pistas como tráfico de narcóticos e uma cantora de cabaré (isso mesmo!) chamada Chikako Arai (Yumi Shirakawa), a namorada do falecido Misaki. Dr. Masada (Kenji Sahara), professor assistente da Universidade Jyoto, procura Arai para buscar pistas e acaba se tornando suspeito pela polícia. Masada explica que tem uma teoria sobre o desaparecimento de Misaki, que pode estar ligado a derretimento humano causado por uma forte radiação da chuva que caiu durante a noite em que Misaki morreu.

Inicialmente sem creditar nas palavras do Dr. Masada, a linha investigativa, comandada pelo Inspetor Tominaga (Akihiko Hirata mais uma vez!) avança e descobre que o misterioso caso tem origem num experimento nuclear que causou o desaparecimento do navio Ryujin Maru II no sul Oceano Pacífico. Isso seria obra de um terrível mutante.


Uma típica cena de terror

Bem como a premissa de Godzilla, O Monstro da Bomba H foi baseado na história real do barco de pesca Daigô Fukuryu Maru (ou Luck Dragon 5) que havia entrado nas água de onde foram realizados testes com Bomba H. Os tripulantes sofreram radiação e foram mortos por envenenamento. Em novembro de 1957, o trio Tanaka, Honda e Tsuburaya finalizaram a história com o roteirista Takeshi Kimura, o mesmo de Rodan!... O Monstro do Espaço e Os Bárbaros Invadem a Terra. Pessimista, Kimura ficou encarregado de consubstanciar elementos do roteiro original de Unagami. Apesar do passo significativo para consolidar o gênero tokusatsu, o misto de investigação e ficção científica não era novidade para o público japonês, pois isso estava presente desde a década de 1920 com a popularidade de revistas como Shinseinen (Nova Juventude) e Kagaku Gaho (Ciência Pictorial).


O último filme da dupla Kenji Sahara e Yumi Shirakawa
Esta foi a terceira e última vez que Ishiro Honda juntou Kenji Sahara e Yumi Shirakawa para formar um par no cinema. Sahara trabalhou em vários filmes de Honda, além de estrelar a série Ultra Q (Tsuburaya, 1966) como Jun Manjome. E Shirakawa participou de vários filmes fora do tokusatsu, sendo que voltaria em 1962 em Gorath. Inclusive, a saudosa atriz (falecida em 2016) sutilmente chama atenção por sua estonteante beleza. Era de longe uma das musas de seu tempo.

Tsuburaya conseguiu produzir os efeitos dos humanos em dissolução através de bonecos de látex em tamanho natural dos atores que interpretaram as vítimas. Com filmagens de câmeras de alta velocidade, Tsuburaya literalmente deixa escapar o ar desses bonecos, e quando combinada com efeitos ópticos na pós-produção, eles pareciam ser dissolvidos pelos monstros gelatinosos. Bem feitos para os padrões da época.

6 comentários:

  1. Grande César!

    Sempre tive muita curiosidade por esses filmes. Você está fazendo um grande serviço ao fandom brasileiro com esses registros e investigações sobre clássicos do tokusatsu. Muito bom, continue assim!

    Grande abraço!

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    1. Muito obrigado, mestre Nagado! Pretendo buscar e escrever mais sobre essas produções antigas ao longo do ano. Não apenas por causa do Círculo de Fogo e do Godzilla nos cinemas, mas também pra divulgar e instigar os leitores a conhecerem esses clássicos. Acho importante frisar a história do tokusatsu para o público. Valeu! Abraços!

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  2. Mais um clássico que também passou na nossa TV ....na época dava medo até porque sempre passava a noite... um amigo meu tem a película dublada ! Um grande registro e uma ótima matéria...para quem assistiu na época é mais legal ainda.

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    1. Olá, Livre. Obrigado pelo prestígio. Fico feliz pela lembrança desse clássico. Valeu! Abraços!

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  3. Fala,Cesinha. Gosto muito desse filme. Parabéns pela série de textos. Ansioso pelo próximo. Valeu. Abs

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    1. Grande Matheus (Dyna Black)! Muito obrigado. Eu ainda tenho que tirar um tempinho pra escrever a próxima matéria, que será sobre o Varan, também de 1958. Esse deve sair depois da semana santa. Valeu! Abraços!

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