quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Fantomas, o primeiro super-herói da cultura pop

O "morcego dourado" Fantomas e seu arqui-inimigo Dr. Zero

Talvez você possa pensar que os populares Superman (criado em 1938), Batman (em 1939), ou mesmo O Fantasma (1936) sejam os primeiros super-heróis da história, não é? Então, antes deles, mais precisamente em 1931, surgiu o primeiro super-herói, diretamente na terra do sol nascente. Ele era Ogon Bat (algo como "Morcego Dourado") ou Fantomas como foi batizado aqui no Brasil. O herói era uma personificação de um esqueleto que salvava donzelas num Japão pós-depressão. Suas histórias eram contadas através do kamishibai, um antigo teatro de papel criado originalmente no século 12. O criador de Fantomas era Takeo Nagamatsu, nascido na província de Oita em 1912.

Após a morte de Nagamatsu em 1961, Fantomas ganhou um filme tokusatsu em 21 de dezembro de 1966 pela Toei Company. A película foi estrelada por Sonny Chiba, fundador da escola de dublês Japan Action Club (atual Japan Action Enterprise). O filme de Fantomas foi lançado no Brasil direto-para-vídeo apenas em 2013 via Cult Classic (leia mais aqui).

Em 1 de abril de 1967, um pouco mais de três meses após a aventura nas telonas, Fantomas estreou na TV japonesa com sua série animada. Produzido pela extinta produtora Daichii Doga - a mesma da série clássica Yokai Ningen Bem, de 1968 - Fantomas era apresentado semanalmente aos sábados na faixa das 19h dos canais Yomiuri TV e Nippon TV. Foram ao todo 52 episódios e o tema de abertura era o mesmo do filme para o cinema.

Na versão animada, o arqueólogo Dr. Miller pesquisa sobre os mistérios de Atlântida e possui um livro que afirma que o lendário continente poderá ser reemergido em breve. Após um acidente em sua expedição, Dr. Miller morre e deixa sua única filha Marie, que sobrevive. Marie é salva por Dr. Steel, um cientista que trabalha em prol da humanidade. Ao seu lado estão o filho Terri e o atrapalhado - e comilão - assistente Gabi. A bordo da nave Super Carro, os quatro descobrem Atlântida e são surpreendidos com um ataque do maquiavélico Dr. Zero. Mais precisamente por uma mão gigante, criação do vilão.

O livro indica que um guerreiro superpoderoso criado pela antiga civilização de Atlântida é revivido a cada 10.000 anos, sempre quando a Terra é ameaçada pelas forças do mal. Eis que surge Fantomas - O Guerreiro da Justiça. Iniciando assim uma luta entre o bem e mal. O elo maior de Fantomas em sua nova vida está ligado à Marie, que o ajudou a despertar de seu profundo sono. Sempre que é ameaçada, Marie chama por Fantomas e logo seu mensageiro, o Morcego Dourado, o convoca para a batalha.

Foram vários vilões que desafiaram o indestrutível ser que se apresentava com uma inconfundível gargalhada, todos enviado por Dr. Zero como o Máscara Negra, as Crianças Newton, o Gato Preto, o Vampiro e o milenar Dr. Morte -- um antigo rival do morcego dourado nos tempos de Atlântida.

Fantomas teria uma sobrevida numa versão atualizada produzida pelo estúdio AIC, o mesmo dos animes Tenchi Muyo e El Hazard (ambos exibidos nos anos 2000 pela Band). O piloto foi divulgado em 2001. Apesar da modernização do herói, não agradou o público japonês e o projeto foi cancelado.


O antigo Fantomas das páginas do tradicional kamishibai


O GUERREIRO DA JUSTIÇA NO BRASIL

Fantomas foi exibido no Brasil a partir do dia 25 de maio de 1973 (sexta-feira) na TV Record a partir das 18h30. Na época eram exibidos clássicos japoneses como por exemplo o anime Super-Homem do Espaço e o tokusatsu Vingadores do Espaço. Por lá foi exibido quatro vezes com exaustivas reprises. Sua última exibição aconteceu em agosto de 1984. Inicialmente a Record exibiu a série em preto-e-branco. Vale ressaltar que programas em cores ainda estavam sendo difundidos e a primeira transmissão nesse formato aconteceu aqui no Brasil em 1972.

Segundo registros de programação de TV em jornais como Folha de S. Paulo, Fantomas aparecia na grade como "Fantaman". Este foi o nome de batismo do herói na Itália. O mesmo acontecia na abertura da série, que era um recorte com cenas de alguns episódios. Uma vez que as fitas masters não vieram diretamente do Japão. Tivemos duas versões: uma em preto-e-branco e outra colorida. A dublagem foi realizada pela Cine Castro.

Em 2013, Fantomas teve seu lançamento em DVD no Brasil via Cult Classic, onde 42 dos 52 episódios tiveram áudios da dublagem clássica recuperados e com a versão japonesa na íntegra. Diversão garantida para todas as gerações deste clássico que completa cinco décadas em 2017.

FANTOMAS NOS RINGUES BRASILEIROS

Afinal, de onde surgiu o nome "Fantomas" na dublagem brasileira? Simplesmente era uma homenagem ao lutador de luta-livre que tinha o mesmo nome nos anos 60 e 70 e era famoso em programas do gênero como Telecatch e Gigantes do Ringue. Apesar do nome "Fantaman" no título na TV e na grade programação, a Cine Castro resolveu adotar o nome do verdadeiro Fantomas como referência, devido à sua máscara que lembra bem um fantasma.

Seu nome verdadeiro era José Carlos Pereira e o personagem tinha a característica de não dobrar as pernas, esticar os braços e jamais cair no chão quando era atacado. Além de Fantomas, José Carlos criou outros personagens na luta-livre como o Fantasma (não confunda com o Fantomas), a Múmia e o Mister X. O traje e a máscara de Fantomas permitiam que José Carlos trocasse a identidade secreta com outros lutadores, já que seu rosto não era revelado até então.

Depois do sucesso, José Carlos passou a integrar o Clube Sete de Setembro, onde reunia grandes lutadores como Brutos, Índio, Cangaceiro, Ted Boy Marino, entre outros. Nessa época, José Carlos atendia pelo codinome King Kong.

Ele deixou a cerreira em 1975 e logo se tornou empresário no ramo de bebidas, no qual foi revendedor da Brahma por 25 anos em São Bernardo do Campo, São Paulo. Em seguida ele representou cervejarias e até uma escola de idiomas. Atualmente está aposentado.


O Fantomas brasileiro

9 comentários:

  1. Oi, César. Bela matéria, uma nostalgia pra mim.

    Só dois reparos: O nome certo é Ted Boy Marino, que chegou a integrar o elenco fixo dos Trapalhões bem no começo. E essa foto do final não é do Fantomas que eu lembro de assistir. O Fantomas da luta-livre usava máscara de caveira mesmo. Lembro até hoje da clássica luta Fantomas x King Kong, dentro de uma jaula. Eu adorava aquilo, ah ah.

    Bom retorno.
    Abraço!

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  2. Valeu, Nagado. Muito obrigado pela felicitação e pelos toques. Infelizmente eu não era nascido na época que o Fantomas passava na Record. Aliás, a Record só chegou aqui em Fortaleza oficialmente em 4 de novembro de 1996 por sinal UHF. Foi numa época em que passavam desenhos como Bill Body, As Aventuras do Gato Félix, Rahan, programas infantis da casa como o Agente G e Mara Maravilha Show e séries como O Quinteto, Nova York contra o Crime, Arquivo X, Comando Espacial, Paixões Perigosas, Chicago Hope, etc (eu era viciado em TV nessa época). Faz algum tempo que tenho o DVD da série e fiz questão de rever nesse ano. É um clássico e tanto e sua risada é marcante.

    Vi que acabei invertendo sem querer o nome do Ted, mas corrigi aqui (cabeça minha... hahaha!). Lembro vagamente dele pelas reprises dos Trapalhões nos anos 90. Sobre a foto do Fantomas da luta livre, confesso que rodei a net e tinha encontrado várias fotos dele com essa mesma máscara e várias fontes oficiais apontando como o Fantomas do José Carlos Pereira. Assim que eu encontrar a máscara de caveira eu vou atualizar o post.

    Grande abraço!

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  3. Eu assisti na record ! Nunca esqueci o primeiro episódio ! Um grande anime !

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  4. Essa informação de duas dublagens onde você leu isso ? Sempre teve uma única dublagem....feita pela Cinecastro.... Talvez quem divulgou isso por ai deve ter confundindo! O que acontecia foi que alguns personagens mudavam vez ou outra as vozes ( dubladores) tanto na Tupi quanto na Record sempre foi a mesma dublagem... Tenho quase todos dublados inclusive os que o box da cult deixou só legendado.

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  5. Cesar, também fiz um texto sobre o Fantomas no ano passado, antes do lutador, havia o ladrão elegante da literatura francesa, acho que o nome veio assim por causa do usado em outros países Fantaman na Itália, Fantasmagórico em países hispânicos e Phantoma na Austrália e nos Estados Unidos, aqui também foi Fantaman no começo.


    http://quadripop.blogspot.com/2016/07/fantomas-o-guerreiro-da-justica.html

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    1. Bem curiosa essas versões alternativas do Fantomas. Até o Osamu Tezuka criou sua própria. Muito bom, Quiof.

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    2. Pena que não consegui traduzir tudo, a maioria das informações está em japonês, mas linkei o fansite.

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