O Comando Estrelar Flashman |
Dentre as séries japonesas de tokusatsu exibidas no Brasil, uma das que tenho profundo carinho é o Comando Estrelar Flashman (Choshinsei Flashman no original). O clássico exibido pela saudosíssima Rede Manchete me prendia atenção quando era pequenino e até hoje, quando revejo, fico arrepiado com toda a dramaticidade da série. Isso pode ser uma característica comum entre os programas japoneses da época, mas Flashman tem algo especial, ímpar e carrega toda uma construção significativa.
A concepção da obra veio graças ao produtor Takeyuki Suzuki. Foi no início da primavera de 1985 quando ele começou a idealizar a série que substituiria Changeman (que estava no ar apenas dois meses na programação da TV Asahi). O que é normal esse planejamento nesse época do ano para a Toei Company. Junto com o roteirista Hirohisa Sôda, Suzuki decidiu que o contexto do próximo esquadrão seria sobre os órfãos japoneses abandonados na China no fim da Segunda Guerra Mundial, e que buscavam conquistar novamente a sua pátria nos anos 80. Assunto que ainda era muito discutido na mídia local. Os tais órfãos sofreram diferenças culturais ao voltar ao Japão décadas depois.
Foi daí que Suzuki resolveu usar isso de forma simples e limitada para os padrões de um programa voltado ao público infantil, afim de ensinar aquela geração - que vivia em tempos de paz - sobre o sofrimento da guerra de seus compatriotas. Os órfãos foram representados por cinco crianças terrestres que foram raptadas por caçadores espaciais e que voltariam duas décadas depois para vingar e procurar suas respectivas famílias. Durante esse período os jovens foram treinados com poderes e habilidades especiais.
As belas Yoko Nakarura (Sara) e Sayoko Hagiwara (Néfer) nos bastidores |
Entre o elenco principal, apenas Kihachirô Uemura (Dan/Green Flash) foi escolhido numa audition. Tôta Tarumi (Jin/Red Flash), Yasuhiro Ishiwata (Gô/Blue Flash), Yoko Nakamura (Sara/Yellow Flash) e Mayumi Yoshida (Lu/Pink Flash), foram escolhidos já que eles haviam participado em outras produções da Toei. Segundo Tarumi, ele foi chamado para uma seleção de elenco - que jamais aconteceu. Encontrando os demais colegas, ali já havia sido definido o casting e até suas respectivas cores. Nenhum deles fazia ideia do que aquilo se tratava. Nem eles imaginavam que seria mais um Super Sentai. As primeiras cenas gravadas no estúdio de Oizumi foram da transformação. Aquelas onde o Visor Combate (Shut Goggle no original) de cada herói é fechada. Sem contar as cenas em chroma key. Esses materiais foram rodados praticamente após a "seleção" dos atores.
Nos bastidores, o talentoso ator Yutaka Hirose pensava que seria o líder do grupo. Mas foi escolhido para interpretar o vilão Wandar. A partir daí Hirose viveria outros vilões marcantes nas séries Super Sentai. Mais curioso ainda é como Koji Shimizu deu a vida ao inesquecível Dr. Keflen. Recebendo o convite da Toei por telefone, o ator ficou receoso por ser mais um vilão cômico (já que trabalha com papéis dramáticos). Mas seu filho, que é fã dos esquadrões multi coloridos, o incentivou a participar. Sabe aquela frase em que Keflen grita no último episódio "Adeus, Flashman! Adeus, planeta Terra!"? Então, foi uma alteração de script feita pelo próprio Shimizu, que se entregou ao personagem ao longo das gravações. Koji Nakata também ficou com um pé atrás no começo. A atriz Atsuko Takahata (a Kilza em Jaspion) ajudou a convencê-lo de ficar com o papel de Kaura, o Caçador das Trevas. Nakata trabalhou junto com Hirose na série Liveman como o vilão Bias. Já Yoshinori Okamoto apareceu na reta final, devido a um acidente que sofreu após o fim das gravação de Changeman, onde interpretou o Pirata Espacial Buba. Okamoto foi Galdan, o parceiro de Kaura. Bem, Sayoko Hagiwara, a Néfer, não teve problemas, pois conhecia o gênero Super Sentai através da série Dynaman, onde viveu a Dyna Pink, sem contar que antes foi a heroína Yullian em Ultraman 80 (disponível no Brasil pelo serviço Crunchyroll).
Os nomes dos vilões nada mais são que inspirações de Hirohisa Sôda, devido à férias no Egito, por onde passou em 1983. Keflen (ou Kôplen, segundo o livro Flashman - Manual Perfect) era uma referência ao faraó Kéfren, irmão menor de Kéops e autor da construção da segunda maior pirâmide do Egito. Néfer era Neferkare, um nome importante reis do antigo Egito do "período negro" nas margens do rio Nilo. Ao contrário do que muitos podem pensar, La Deus não foi inspirado no Criador, mas sim uma escolha da produção. Wandar (Wanda no original) e Kaura não tem nenhum significado, porém foram seus nomes tem influência egípcia. Bem como os monstros da semana.
A épica luta entre Kaura e Red Flash foi o ponto alto de Flashman |
Voltando sobre o conceito dos heróis, os atores faziam suas apostas para saber quem seria o filho do casal Tokimura. A dupla Suzuki/Soda tinham uma carta na manga para os personagens. Ou melhor, uma dose letal de sofrimento. O efeito anti-Flash que sofreram por passarem muito tempo fora da Terra. Esse efeito nada mais representava que a rejeição e o preconceito que aqueles órfãos japoneses da guerra sofreram no passado, por voltaram para a terra natal. Os escritores foram contra a ideia por ser cruel demais, mas Suzuki insistiu até o fim. Em vez de cair (como se pensava nos bastidores), a audiência aumentou. Isso só reforçou a conquista de audiência desde o começo da segunda metade do programa - que superou os índices de Changeman. Aliás, o Esquadrão Relâmpago é o sétimo sentai mais visto, enquanto Flashman é o sexto. Falando em Changeman, a série só conseguiu a marca de 55 episódios (cinco a mais que o planejado) devido ao atraso de produção de Flashman. Inicialmente estava programado para estrear em 1 de fevereiro de 1986, mas só foi lançado em 1 de março. Na faixa das seis da tarde de sábado da TV Asahi.
Foi a partir de Flashman que aquele padrão de esquadrão carismático foi quebrado. Não que eles não tivessem. Pelo contrário, eles tinham e com um toque diferente que cativava a quem acompanhava a saga dos guerreiros. O tom de seriedade levou a outros sentais como Maskman, Liveman e outros a seguir o mesmo caminho. Flashman gerou uma das batalhas mais emocionantes do tokusatsu. A famosa luta de Red Flash contra Kaura em meio a um belíssimo pôr do sol. Por si só superou outra luta memorável, o duelo final entre Dragon e Buba em Changeman. Lutas como essas jamais tivemos igual em Power Rangers (por motivos óbvios). Uma curiosidade sobre esse episódio é que após a épica batalha, originalmente o cenário volta ao tom cinzento da praia. A Toei corrigiu esse detalhe para um tom alaranjado. Mas condizente ao entardecer. O resultado pode ser visto no DVD oficial lançado pela Focus Filmes em 2011, e é uma boa pra quem gosta de analisar e comparar cenas.
Flashman é uma série a ser apreciada além do saudosismo. Mais que lembranças de um tempo dourado, os heróis devem ser reverenciados pela idealização que lhes deram origem. Uma grandiosa obra que não deve jamais ser vista como uma mera série infantil ou se resumir a mais um clássico. Flashman é muito mais do que isso e nem todos os elogios seriam suficiente pra descrever esta maravilhosa obra.
Poxa, cara!!! Essa matéria me emocionou! Curi a série na época, até achava um tanto melancólica, mas não tinha ideia dessa inspiração! Parabéns pelo texto. Faça uma parecida com o Kamen Rider Black!
ResponderExcluirRealmente uma excelente série, e também um excelente post. Gostaria de ver algo parecido à respeito de jiraya, changeman, lion man, kamen rider black, jiban e spielvan.
ResponderExcluirFlashman foi a primeira série de ter o mais robô.
ResponderExcluirSegundo robô gigante, Tita Boy.
A melhor série""""""
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