segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Tem coisas mais urgentes do que regular a Netflix, sr. Berzoini

Knights of Sidonia é o anime distribuído exclusivamente pela Netflix

Na última quinta-feira (20) o Ministro das Comunicações Ricardo Berzoini disse numa audiência na Câmara dos Deputados que serviços como WhatsApp, YouTube, Skype e Netflix precisariam ser regulamentadas por, segundo ele, "competirem com os fornecidos por empresas brasileiras que já têm suas atividades definidas pela legislação brasileira". O ministro ainda afirma que é preciso resolver esse quadro de “assimetrias regulatórias e tributárias” para promover um “tratamento equânime”.

Dentre estas ferramentas, a que mais foi mais foi alarida entre o público, quanto à declaração do ministro, foi a Netflix, que é um serviço Over The Top (OTT) de streaming/on demand que que atua no Brasil há alguns anos. É bem verdade que o serviço está em seu melhor boom, não apenas por aqui mas também em outros países onde atua. Parte desse crescimento é devido às suas séries originais como House of Cards, Orange Is the New Black, Sense8, Demolidor, Narcos, etc. Dentre os títulos também está o anime Knights of Sidonia (Sidonia no Kishi no original), distribuído mundialmente e com selo exclusivo da gigantesca plataforma.

No dia seguinte da declaração de Berzoini, o vice-presidente de marketing da Netflix da América Latina, Vinicius Losasco, disse durante o Fórum webOS o seguinte: "Não estou preocupado até porque não tem nada resolvido. Estamos abertos para conversar e dispostos a explicar como funcionam as OTTs em relação a TV tradicional. Além disso, temos uma empresa constituída no Brasil, com funcionários, gerando emprego e conteúdo nacional". O executivo do serviço frisou também que a empresa possui um canal aberto de comunicação com o governo, por meio da Ancine, e também com as operadoras de internet.


Demolidor, outra atração exclusiva da plataforma

Sr. Ministro, entendo a sua posição e das operadoras de TV por assinatura. Mas toda essa preocupação é graças ao avanço da mídia de séries de TV e cinema, que até então era um público que estava atrás dos que acompanham fervorosamente as novelas. O que não é ruim, entenda. Os serviços de streaming vieram pra ficar e cabem a todos aceitarem essa tecnologia que facilita demais a vida de quem consome este tipo de produto. Como diria Darth Vader, da série Star Wars: é inútil resistir.

Além do mais, o preço da Netflix é justo e acessível. Serviços OTT são baratos por natureza e daqui a 10, 15 anos isto certamente estará muito bem adaptáveis ao cotidiano. Ou melhor, já estão sendo inicialmente. Não apenas no Brasil, mas também no mundo. O problema das operadoras de TV por assinatura é que os preços dos pacotes de programação estão cada vez mais caros e o seu modelo precisa ser reinventado. Canais de filmes e séries que tem janelas de lançamentos estão maiores e mais atrasados que a própria Netflix e muitas vezes há falha de qualidade de programação de algumas emissoras. Salvo séries como Game of Thrones que possui janela zero de lançamento na HBO.

Tanto a Netflix, quanto a Crunchyroll (exclusiva de séries japoneses), a HBO GO (para assinantes da HBO) oferecem uma infinidade de programas para serem assistidos a qualquer hora. No meu caso, sendo bem específico, eu não preciso mais ter que perder meu tempo suado e corrido pra baixar minha série japonesa inédita favorita (que está sendo exibida no outro lado do Brasil) quando eu já tenho ela na palma da mão, de forma legalizada e sem custo adicional pelo simulcast (como é o caso específico do serviço oficial de animes e dramas). Isso sem mencionar que eu posso montar minha própria tabela de programação e escalar minha exibição diária/semanal ou maratonas a gosto de séries. É a primeira vez na história da mídia televisiva em que pagamos um preço acessível e isso nada fere as operadoras. Muito pelo contrário, não tem porque esse pânico todo. O que falta para elas é se adequarem à estas tecnologias e entenderem que elas não são e nem foram feitas para rivalizar com as TVs e sim adaptá-las como forma alternativa e tecnológica. Elas são como locadoras virtuais que oferecem uma imensidão de filmes, séries, musicais, documentários, novelas, desenhos, etc. E digo mais: as TVs por assinatura poderiam oferecer pacotes mais acessíveis e até personalizadas, podendo o assinante escolher que canais cabem no seu próprio perfil. Visto que alguns países adotam esse formato. Cairia bem mais em conta e a escolha seria mais democrática.

E sobre os casos mais urgentes para serem priorizados seria, primeiramente, quanto a resolução da atual crise econômica que o país sofre antes de se pensar em regulamentação e tributos (coisa que a Netflix paga sim). A outra, que é mais pertinente ao Ministério das Comunicações, é se unir para fiscalizar com mais rigor "serviços" de streaming não-oficiais e de downloads ilegais que são comercialmente impronunciáveis e que fomentam cada vez mais a pirataria contra obras áudio-visuais que possuem direitos no Brasil (com isenção de títulos inéditos e expirados no Brasil que funcionam apenas como divulgação na internet) e por fim prejudicam a audiência de tais títulos.

Todos só tem a ganhar quando se colocam metas, estratégias equilibradas e uma comunicação interativa com o público, com os serviços de streaming e com as operadoras de TV por assinatura.

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